ECOSSISTEMA
23 de novembro de 2020 | Governo do Estado de Rondônia
O sonho do ecoturismo no Vale do Guaporé não está mais tão
distante da realidade. Ao visitar, na última semana, a sede do Parque Estadual
Serra dos Reis, o secretário da Amazônia do Ministério do Meio Ambiente,
Joaquim Álvaro Pereira Leite, acenou com apoio federal ao Governo de Rondônia
na reestruturação desse reduto verde.
A
coordenação do Parque está vinculada à Secretaria Estadual do Desenvolvimento
Ambiental (Sedam), que tem apoiado a proteção integral às riquezas botânicas e
faunísticas desse território de 36,44 mil hectares no município de Costa
Marques (fronteira Brasil-Bolívia).
Nessa região
ainda é possível avistar onças-pintadas, macacos, tamanduás, cobras, lagartos,
diversos pássaros, borboletas e demais insetos.
Em outubro
de 2001, uma empresa de engenharia ajudou na viabilidade da co-gestão,
instalando um conselho consultivo com representantes das comunidades
locais. Paralelamente, criou um plano de sustentabilidade econômica, visando à
recepção de visitantes, turistas, estudantes e público em geral.
Bem próximas
ao Parque estão as praias do rio Guaporé, onde se encontra o berçário de
quelônios que a cada ano povoa as águas com filhotes de tartarugas (Podocnemis
expansa) e tracajás (Podocnemis unifilis), oferecendo um dos mais belos
espetáculos de reprodução animal do mundo.
O secretário
visitou o Projeto Quelônios, uma iniciativa da comunidade ribeirinha
representada pela Associação Comunitária Quilombola e Ecológica do Vale do
Guaporé (Ecovale) em parceria com a Sedam e Batalhão de Polícia Ambiental (BPA).
Até então,
aves predadoras comem os ovos de tartarugas e tracajás a cada ano, enquanto
contrabandistas furtam os próprios animais de seu hábitat natural para
vendê-los a restaurantes ou para almoços e jantares clandestinos.
O prejuízo à
fauna vem se acumulando. Alvo tão fácil quanta a tartaruga, o tracajá também se
alimenta do plâncton fluvial, porém, põe menos ovos – de 15 a 30 ovos a
cada reprodução. Apenas 10% dos ovos são
reproduzidos normalmente.
Ovos de
tartaruga, alvo fácil nas praias do Guaporé. Se o Parque incorporá-las,
protegerá a reprodução
A possível
incorporação das praias aos limites do Parque possibilitaria melhor
fiscalização, evitando esse grave problema.
O
coordenador de Unidades de Conservação (CUC), Fábio França, e o turismólogo e
gestor ambiental do Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa) no Parque,
Darius Augustus, mostraram o local ao secretário Joaquim Leite. É o primeiro
que ele visita nesta parte da Amazônia Ocidental Brasileira. A coordenadora de
florestas plantadas e mudanças ambientais, Julie Messias também o acompanhou na
visita.
À frente dos
mapas com imagens de satélite, Darius disse acreditar que o Parque com área
expandida fortaleceria o Corredor Ecológico Costa Marques-Itenez de La Frontera
(Beni, Bolívia), avaliado 30 anos atrás pelo Instituto Chico Mendes de
Biodiversidade (ICMBio).
Da mesma
forma, o coordenador da CUC, Fábio França, enfatizou a importância turística
desse verde.
“Ele mantém em pé uma extensa
área de floresta muito rica por sua biodiversidade; é um atrativo natural ao
turista que busca experimentar a vivência amazônica”.
O gestor
Darius Augustus disse ao secretário que no entorno do Parque existem áreas
devolutas da União, “ainda não requeridas”. E ponderou: “Tudo depende de
vontade política, e, logicamente, de dinheiro”.
Joaquim
Leite fez fotos da floresta, caminhou numa trilha, e em seguida conheceu a base
do Parque, reformada depois de 15 anos da derradeira modificação. Darius
mostrou-lhe quartos e alojamentos.
Criado em 8
de agosto de 1995, pelo Decreto nº 7027, o Parque teve alterados seus limites
pela primeira vez em 1997, pela Lei 764, reafirmando o espaço territorial para
a conservação da biodiversidade e realização de pesquisas técnico-científicas.
Uma delas é recente e será brevemente informada pela Sedam.
TURISMO POTENCIAL
Cerca de 20
mil pessoas participam anualmente do Festival de Praia de Costa
Marques. Além das atrações faunísticas e florestais do Parque, outro
acontecimento também fortalece o pleito: a centenária Procissão do Divino, que
também ocorre a cada ano, nas águas do rio Guaporé, passando por diversas
comunidades.
Joaquim
Leite disse ao secretário do Desenvolvimento Ambiental Marcílio Lopes que, se o
Parque receber melhor estrutura, a região de Costa Marques ganharia voos
regionais a partir de Porto Velho e Guajará-Mirim.
Marcílio Lopes mostra a Joaquim Leite localização do Parque Serra dos Reis |
Darius
explicou-lhe que o Programa Arpa já guarnece bem a conservação da flora e dos
animais e, se existir outra fonte de recursos, a exploração do ecoturismo se
viabilizaria.
“Eu acredito
muito nisso; o secretário Marcílio também vê positivamente a nossa aproximação
com a indústria do turismo; afinal, de cada nove pessoas empregadas no mundo,
uma é nesse setor”, disse Darius Augustus.
Em 2017, ao
anunciar o projeto Voe Rondônia, a empresa regional de aviação que opera em
Rondônia previu voos de turismo com aviões Gran Caravan contemplando Ariquemes,
Cacoal, Costa Marques, Guajará-Mirim, Ji-Paraná, Pimenteiras e Vilhena.
“Isso
acontece na Patagônia, e para atrair mais visitantes em trajetos menores de
voos, aqui poderia ser bem utilizada a plataforma floresta e unidade
ambiental”, comentou o secretário da Amazônia um dia antes, durante a visita à
Base da Resex do rio Cautário, aonde ele chegou, no dia 17.
FAZENDEIRO PRESERVA
Dono da Fazenda Bacuri (232 ha),
vizinha ao Parque, o baiano Arthur Miranda Neto também conversou com o
secretário de Amazônia, dando-lhe notícias alvissareiras: “Eu comecei a
trabalhar aqui em meados da década de 1980, e me orgulho de nunca ter queimado,
nem sacrificado animais, e a beira dos córregos estão todas preservadas”.
“Parabéns,
parabéns, sua atuação é valorosa”, elogiou o secretário. “O que precisarem,
conte com a gente”, respondeu-lhe Arthur Neto.
No período
seco do ano, entre junho e outubro, ele consegue confinar 500 bois em apenas um
alqueire de pasto. E vê nessa prática “o suficiente”: “Todo cidadão que quiser
preservar pode fazer do jeito que eu faço aqui”.
O filho
dele, o agrônomo Rodrigo, é gestor ambiental e admira muito o Guaporé. A
família veio de Bom Jesus da Lapa (BA) em 1985, passou um período em Cerejeiras
e se mudou para Costa Marques.
O secretário
Joaquim Leite explicou ao fazendeiro a disponibilidade de recursos do Programa Floresta+ também
para as reservas legais. “A base é boa, a sua preservação de córregos está
entre os itens contemplados”, disse a Arthur Neto.
SAIBA MAIS
► As unidades geomorfológicas de relevo do Parque são o
pediplano centro-ocidental brasileiro e o planalto dos Parecis, com altitudes
que variam de 100 a 400 metros.
► Os solos mapeados são das categorias latossolo amarelo e solos litólicos.
► Avaliações ecológicas rápidas registraram 152 espécies de aves e 24 de
mamíferos. Há necessidade de levantamentos mais completos, que incluam a
herpetofauna e os invertebrados locais, o que vem sendo feito pela Sedam.
► Predominam no Parque as florestas ombrófilas abertas nas áreas planas, com
muitas palmeiras e diversidade considerada baixa para padrões amazônicos, e
florestas mais densas nas áreas de solos hidromórficos.
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Frank Néry
Secom - Governo de Rondônia