O pirarucu, considerado um dos maiores peixes de água doce do mundo — podendo atingir até 3 metros —, já foi ameaça de extinção. Hoje, sua pesca é realizada com manejo sustentável e monitorada pelo Ibama, autorizando apenas uma parte dos peixes, o que ajuda a preservar a espécie e gerar renda às comunidades indígenas e ribeirinhas.
Marcas como Osklen e Piper & Skye destacam os ganhos socioambientais dessa cadeia. A Osklen afirma que a iniciativa colabora com a economia circular e gera renda para as populações locais, enquanto a americana Piper & Skye vem se posicionando como símbolo de luxo sustentável.
No entanto, pescadores envolvidos no manejo relatam que o valor recebido é muito baixo. Segundo Pedro Canízio, vice-presidente da Femapam, o quilo do pirarucu inteiro chega a R$ 11 — insuficiente para adquirir os acessórios de luxo feitos de seu couro.
A consulta com especialistas reforça as desigualdades da cadeia produtiva. Fernanda Alvarenga, que estuda o mercado do couro de pirarucu, afirma: “a maioria dessas relações é questionável”. Mesmo considerando o alto valor cultural, ambiental e econômico da atividade, ela alerta que o modelo atual ainda deixa os manejadores de fora dos lucros.
A produção de acessórios de luxo com couro de pirarucu tornou-se símbolo positivo de sustentabilidade, mas a realidade local é outra: muitos dos ganhos se concentram em grandes marcas ou empresas como a Nova Kaeru, que detém cerca de 70% das exportações. Enquanto isso, 95% das peles passam por apenas sete frigoríficos, e apenas 5% são processadas por associações comunitárias.
O processo de beneficiamento é complexo, caro e exige tecnologia — um desafio para as comunidades, que ainda não conseguem realizá-lo de forma autônoma. O Coletivo do Pirarucu, criado em 2018, já promove iniciativas para mudar esse cenário. A marca "Gosto da Amazônia", por exemplo, liderada pela Asproc, foca na comercialização da carne e oferece até 40% a mais pelo peixe do que o preço médio da região.
Entretanto, Bruna Freitas, fundadora da Yara Couro, ressalta que ainda faltam políticas públicas e investimentos para que comunidades possam processar o couro localmente e garantir maior participação nos lucros. Sem isso, o modelo sustentável corre o risco de perder atratividade e enfraquecer o compromisso da floresta com suas comunidades como aliadas na conservação.
Fonte: Adaptado de BBC News Brasil, reportagem de Luiz Fernando Toledo (18 de agosto de 2025) – link para a matéria original