O relatório “Amazônia em Disputa”, lançado nesta semana em Bogotá, Colômbia, faz um mapeamento das fronteiras da Amazônia noroeste — abrangendo Brasil, Colômbia, Venezuela, Equador e Peru — e ressalta os principais conflitos que ameaçam a região.
A pesquisa, elaborada em parceria entre o Instituto Igarapé, a União Europeia e a Fundação para a Conservação e o Desenvolvimento Sustentável (FCDS), distingue quatro tipos de disputas predominantes na Amazônia:
-
Ambientais – Englobam degradação da floresta, desmatamento, queimadas e exploração predatória.
-
Criminais – Envolvem atuação de grupos armados e redes ilícitas que transitam entre o legal, o informal e o ilegal, como narcotráfico e mineração clandestina.
-
De capital – Refletem a transformação da floresta em mercadoria, via cadeias legais e ilegais que incluem drogas, ouro, madeira e pecuária, alimentando o desmatamento e possibilitando lavagem de ativos.
-
Institucionais – Contribuem para a fragilidade da governança regional: enquanto redes criminosas se expandem, a presença estatal continua desarticulada e ineficaz.
O levantamento também aponta que ao menos 16 grandes grupos armados ilegais atuam em 69% dos municípios da região amazônica noroeste, incluindo o Comando Vermelho (CV), Primeiro Comando da Capital (PCC), ELN e dissidências das FARC Agência BrasilConexão de Noticias. Em regiões como Putumayo (Colômbia), Madre de Dios (Peru) e Sucumbíos (Equador), essas dinâmicas são especialmente críticas devido à combinação entre narcotráfico, extração ilegal e ausência do Estado.
As comunidades indígenas e ribeirinhas são as principais vítimas desse cenário. São comuns os deslocamentos forçados, a perda de territórios e a destruição de modos de vida tradicionais. Mais da metade dos assassinatos de defensores ambientais registrados globalmente em 2023 ocorreram na Amazônia — um reflexo da fragilidade da presença estatal e da falta de governança civil.
Para Melina Risso, diretora de pesquisas do Instituto Igarapé, a situação exige respostas integradas:
“Precisamos de ações coordenadas. O dano fica na Amazônia, mas as redes que alimentam essas economias ilícitas operam além das fronteiras regionais.”
Entre os cinco corredores fronteiriços identificados com dinâmicas específicas de conflito, dois envolvem diretamente o Brasil:
-
Mitú–Taraira (Colômbia–Brasil): marcado por rotas do narcotráfico e mineração ilegal em área com presença estatal reduzida.
-
Trapézio Amazônico (Colômbia–Brasil–Peru): um dos principais epicentros da economia ilícita na região, com rotas de tráfico de drogas e armas fortemente articuladas em nível internacional.
Outras áreas críticas incluem Guainía–Orinoco, Putumayo e Yavarí.
Risso destaca que a 5ª Cúpula de Presidentes da OTCA, realizada em Bogotá simultaneamente ao relatório, representa uma oportunidade para avançar em cooperação multilateral, segurança pública e financiamento de serviços ambientais — temas que devem ganhar destaque na COP30.